Dentre as comemorações do 12 de Outubro encontramos homenagens à uma Orixá presente na Umbanda e religiões afro-brasileiras. O Centro espirita Santa Bárbara(Guesb) reuniu pelo quinto ano seguido, todos os seus adeptos para celebrar a beleza, o amor puro, a jovialidade e a riqueza de Mamãe Oxum, na cabeça da ponte Abdon Cupertino dos Santos, às margens do caudaloso rio Mundaú, de União dos Palmares.
Desde o período em que os costumes e crenças africanos chegaram ao Brasil, muitos dilemas foram travados. A sociedade escravagista, dizimava e repudiava todo e qualquer tipo de manifestação religiosa proveniente destes povos. Mesmo após tantas lutas, conquistas e direitos garantidos é notado diversos atos de intolerância voltados a essa comunidade. Na sua fala, Mãe Neide fez um apelo aos intolerantes e autoridades da cidade, para abrir seus corações para com os terreiros e pediu ajuda.
"Há muitos anos que nós, na celebração a Zumbi, lavávamos as escadarias da casa do poeta Jorge de Lima e, depois seguíamos para a matriz de Santa Maria Madalena onde éramos bem recebidos. A casa que é de Deus, cabe a nossa religião que só pratica o amor e o perdão. Quero aproveitar o ensejo da presença de um membro da igreja católica que se encontra em nossa presença para que ele possa ser o interlocutor desse nosso pedido!", reivindicou a Ialorixá, Mãe Neide, que mudou o olhar do candomblé em União dos Palmares a partir de sua chegada.
Hoje, a constituição brasileira protege o direito de praticar e expressar culto religioso e criminaliza quem se opor a isso de forma ofensiva ou violenta. Mas, no contexto Brasil Colônia houve uma grande opressão aos ritos afros, e toda a manifestação desta cultura era expressamente proibida.
No entanto, a resistência desses povos perpetuaram e garantiram a sobrevivência da fé nos orixás. Para que essa fé não fossem extinta encontrou-se uma maneira de dar continuidade as práticas religiosas sem passar pela repressão. É então que surge o sincretismo, que vai associar a figura dos orixás aos santos católicos. Na prática, isso vai significar o que? Reza-se para o orixás ?no pé do santo? procurando identificar semelhanças ou expressões das divindades africanas no culto católico.
O resultado disso é também a associação de Oxum a imagem de Nossa Senhora, que em cada região do país vai ganhar uma expressão diferente. Na Bahia Oxum é sincretizada com Nossa Senhora das Candeias, na Paraíba e em parte do litoral paulista geralmente está relacionada a Nossa Senhora da Conceição e em São Paulo à Nossa Senhora da Aparecida.
O arquétipo de Oxum traz o aspecto maternal, a fertilidade, que por sua vez, conecta-o a imagem de Aparecida, mãe de Jesus. A relação com as crianças também vem desse princípio, do poder da gestação que é exaltado nas duas divindades. Quando uma mulher tem problemas para engravidar é a Oxum que se pede auxílio. Nas celebrações à Nossa Senhora também podemos ver pedidos pela maternidade e bênçãos sob as crianças.
Portanto, hoje é comemorado o dia em que Nossa Senhora ? imagem que apareceu no rio quando os pescadores não tinham mais esperança de uma pesca próspera ? veio a se tornar padroeira do país.
Atualmente a santa católica também é símbolo do Orixá feminino das águas doces, do rio e das cachoeiras, mas anterior à isso, Mamãe Oxum já encontrava espaço para se fazer presente por entre os cultos em solo brasileiro.(Ivan Nunes, repórter e esteve presente ao ato ecumênico nesta quinta-feira,12) Axé!
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