União dos Palmares mais uma vez mostra ao Brasil como a política pode surpreender — ou melhor, não surpreender em nada. Em um enredo que mistura desconfiança, medo e zero compromisso com a palavra empenhada, a Câmara de Vereadores protagonizou mais um capítulo digno de novela trash: a eleição antecipada da nova mesa diretora.
O enredo começa com o famoso “G9”, um grupo de vereadores que, apesar do nome pomposo, mais parece um reality show de horror político. É um grupo tão coeso quanto óleo e água: todos juntos, mas cada um de olho na sombra do outro, prontos para puxar o tapete quando a luz apagar. O nível de confiança interna é tão elevado que bastou um boato — ou um simples espirro mal interpretado — para gerar um pânico generalizado.
E foi aí, entre cochichos, mensagens apagadas e olhares atravessados, que surgiu a ideia brilhante: “Vamos antecipar logo essa eleição da mesa diretora!”. Afinal, esperar o tempo certo seria um risco inaceitável para quem vive com a pulga atrás da orelha e a faca atrás das costas.
Agora, no quesito jurídico, há um “detalhezinho” incômodo que muitos preferem ignorar: a ADI 7733, proposta pelo Procurador-Geral da República e com entendimento já firmado pelo Supremo Tribunal Federal, deixou claro que é inconstitucional a antecipação da eleição da mesa diretora dos legislativos municipais. Em bom português: é ilegal, não pode, está proibido. Mas quem disse que isso é suficiente para conter a criatividade da política palmarina?
Com isso, a eleição antecipada, feita no susto, com base no medo e na total falta de palavra, está juridicamente pendurada por um fio — ou melhor, por uma jurisprudência bem sólida. Se alguém ainda tinha dúvida, a ADI 7733 está aí, firme e clara, para lembrar que rasgar o regimento interno e a Constituição tem consequências.
União dos Palmares segue, então, sua rotina de política criativa: onde palavra vale menos que moeda de um centavo e o regimento interno é mais enfeite do que regra. Se depender desse ritmo, a próxima eleição deve ser marcada com dois anos de antecedência — só por precaução.
José Roberto Ventura é jornalista, ex-árbitro de futebol; radialista, publicitário e sociólogo - escreve para o blog às quartas-feiras.
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