Por Ana Paula Omena - Tribuna Independente
A manhã desta terça-feira (05) foi de comoção e reverência. O jornalismo alagoano e a Polícia Civil se uniram em um só sentimento: a dor da perda de Jaime Feitosa, jornalista, editor, policial civil e um dos nomes mais respeitados da comunicação policial do estado. Reconhecido tanto nas redações quanto nas delegacias, Jaime deixa um vazio difícil de preencher — mas também um legado que continuará a inspirar.
“Hoje perde o jornalismo, hoje perde a polícia”, disse o delegado Flávio Saraiva, secretário de Segurança Pública de Alagoas, que conviveu de perto com Jaime. “Uma grande pessoa, sem ambições pessoais. Sua única ambição era viver, cuidar dos filhos e dos amigos. Jaime foi exemplo. Um jornalista que virou policial, mas nunca deixou de ser jornalista.”
Durante a homenagem, o sentimento comum era o de gratidão por ter convivido com um profissional ético, discreto, comprometido com a verdade e profundamente humano. "Seu trabalho na assessoria da Polícia Civil foi decisivo para aproximar a instituição da sociedade alagoana. Foram quase 40 anos dedicados à segurança pública e à comunicação, sempre com um bloco de anotações na mão, falas comedidas e ações firmes", destacou o delegado-geral da PC, Gustavo Xavier. “Ele falava pouco, mas fazia muito. Aprendíamos com ele todos os dias”, recordou.
Já a jornalista Fátima Almeida lembrou da convivência nos tempos da Gazeta e da Tribuna com carinho: “Jaime era sempre alegre, de bem com a vida, um grande companheiro de pauta, um bom texto, uma risada fácil. Era uma presença que iluminava as redações.”
O filho de Jaime Feitosa, o delegado Sidney Tenório, também prestou sua homenagem emocionada: “Meu pai foi meu exemplo como jornalista e como homem, tenho muito orgulho disso. Tive o privilégio de seguir seus passos — fui seu estagiário na Gazeta, seu repórter na Tribuna - ele como editor, e depois também entrei para a Polícia Civil. Ele me ensinou o valor da ética em tudo o que fazia.”
VELHA GUARDA
O editor de fotografia da Tribuna Independente, Adailson Calheiros, emocionou-se ao relembrar a trajetória ao lado de Jaime Feitosa, a quem chamou de “jornalista em todos os sentidos e humano da melhor qualidade”. Companheiros de longa data, trabalharam juntos em veículos como Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas, Tribuna de Alagoas, Tribuna Independente e até na Secretaria de Segurança Pública, na gestão do então secretário Robervaldo Davino.
Adailson destacou grandes reportagens feitas em parceria com Jaime, como o flagrante de uma mulher na sede da Polícia Federal que sequestrava crianças para levá-las a outros países, e a série sobre o transporte de trabalhadores alagoanos para o Pará, publicada sob o título “Escravos Brancos”, matéria que repercutiu nacionalmente e foi tema de debate no Congresso de Jornalistas da Bahia. “Fizemos história no jornalismo alagoano e brasileiro. Hoje, me despeço não só de um grande colega, mas de um grande amigo de tantas pautas e memórias inesquecíveis”, declarou.
Outros companheiros da velha guarda do jornalismo, como o repórter fotográfico Zé da Feira, também relembraram com nostalgia os tempos intensos de redação, com pautas feitas “na raça”, caldinhos na Levada e entusiasmo pelas madrugadas da notícia. “Foi um tempo lírico do jornalismo alagoano, e Jaime estava lá com sua calma, sua sabedoria e sua paixão pelo que fazia.”
O repórter fotográfico, hoje aposentado, também prestou sua homenagem a Jaime Feitosa, com quem dividiu pautas marcantes nas décadas mais intensas do jornalismo alagoano. Conhecido por sua lente afiada e olhar sensível para registrar os bastidores da notícia, ele relembrou com emoção dos tempos em que ele, Jaime, Bartolomeu Dresch, Adailson Calheiros e outros profissionais "corriam" pelas ruas em busca de informação, movidos pela adrenalina e pelo amor ao ofício.
“Foi um tempo em que a gente não media riscos, fazia jornalismo com o coração. E o Jaime, sempre calmo, sereno, era o equilíbrio da equipe”, destacou. Para ele, a perda de Jaime representa o fim de uma era e deixa um espaço difícil de preencher nas lembranças de quem viveu o auge das redações impressas e das pautas feitas na raça.
Jaime Feitosa fez parte da história do jornalismo investigativo alagoano desde a década de 70, e se tornou referência na comunicação da segurança pública. Mesmo depois de deixar as redações, foi convidado pela Tribuna Independente, onde voltou a exercer o jornalismo com a mesma paixão de sempre.
Hoje, jornalistas e policiais civis se despedem não apenas de um colega, mas de um amigo leal, íntegro, generoso e incansável defensor da verdade. Sua partida deixa saudade, mas também uma certeza: Jaime cumpriu sua missão — e deixa um rastro de luz por onde passou.
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