Olívia Cerqueira embarca em nova aventura literária. Vai se firmando como uma boa escritora que recolhe memórias. Aqui, ela está na cidade de União dos Palmares, rua da Ponte, modificada após a enchente de 2010 (que arrastou quase tudo por lá). Sobraram algumas coisas na boca dos sobreviventes e, agora, em registros de Olívia.
A fábrica de colchão de capim do “seu” Francisco; o armazém de cereais de João Jonas; a fábrica de doces, um dia próspera, depois fechada e, mais na frente, a estrutura apagada pela enchente do rio Mundaú, margeando a rua da Ponte.
Maria Rosa cumpre seu ritual. Marido, filhos, pobreza. Vida de dificuldades, relacionamento tenso, o comportamento abusivo, as fofocas correndo de boca em boca.
História ambientada na ditadura, evento desconhecido naqueles rincões. Não se exigia tanta informação ou formação assim. O mundo era aquele, as bordas deste planeta quase não passavam de União dos Palmares. A vastidão das coisas vinha da estrada de ferro ainda em direção a Recife.
Olívia Cerqueira alterna acontecimentos àquele dia a dia ajustado para não mudar. Quinzinho, de pavio curto e expulso de colégios, voltou a União e frequentava todas as missas na matriz de Santa Maria Madalena. Maria Rosa desconfiava do marido. Conheceu a outra família dele no dia do enterro.
Pessoas comuns, com histórias humanas, inseridas em uma realidade bruta mas também revelando delicadezas. Sorte que algumas destas memórias podem ser recuperadas pela sensibilidade de Olívia Cerqueira, de texto apurado no jornalismo, com pesquisas e detalhes.
Um viva a mais esta obra de Olívia. E que o leitor se veja na serenidade do nosso povo. Graças.
Odilon Rios, jornalista
Palavras da autora
Pela primeira vez me arrisco na “ficção”. É este “Antes que seja tarde” o meu quinto livro. Pensei que encerraria meu ciclo de pequena escritora independente com Ainda Ontem, lançado em 6 dezembro de 2024.
Antes da sessão de autógrafos e no dia do trágico acidente acontecido na Serra da Barriga, que vitimou 20 pessoas, em 24 de novembro de 2024, em que um ônibus desceu uma ribanceira, fiquei sem acreditar naquela tragédia e resolvi que não ia parar de escrever, pois a vida é muito breve e tanto a leitura quanto a escrita me ajudam a estimular o cérebro.
E lá estava eu escrevendo uma história imaginária de uma lavadeira, que se passa na década de 1960, na saudosa Rua da Ponte, em União dos Palmares, lugar onde nasci e de onde tenho memórias afetivas da infância. Trata-se da história de Maria Rosa e sua família, com seus problemas, mas com muita fé e otimismo. Boa leitura!
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